27 julho 2006

Há coisas que vale a pena lêr!






Patriotismo

Lembro com alguma nostalgia o dia em que os portugueses saíram à rua vestidos de branco, chamando a atenção do mundo para a situação em Timor-Leste. Confesso a minha insensibilidade em relação à causa timorense (que os últimos acontecimentos parecem, uma vez mais, justificar). O que me tocou foi a capacidade - que até aí desconhecia - do povo português se mobilizar em redor de uma causa, de lutar por algo, de pugnar pelo que o imaginário colectivo via como "o bem", no caso ameaçado por um mal com sotaque indonésio.

Anos depois, Luís Felipe Scolari usou essa característica dos portugueses para gerar uma onda de apoio à selecção nacional de futebol. Os portugueses ficaram felizes, porque ganharam uma nova causa. E até confundiram o apoio à selecção com patriotismo - género "quem não põe bandeira na janela, não é português". Apoiar 11 homens atrás de uma bola em nome de Portugal até pode ser patriotismo. Mas o patriotismo não se esgota por aí - e por ser utilizado para causas muito mais produtivas do que rir ou chorar, de acordo com o que mostra o marcador ao fim de 90 minutos.

O patriotismo pode, por exemplo, ser usado para pagar na mesma moeda às multinacionais que viram costas ao país. Não querem ficar cá? Então nós também não queremos os produtos que vocês vão fabricar noutro país qualquer.

Paulo Camacho

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NÃO

O artigo 13 do Código do IRS dispõe que este imposto "não incida sobre os prémios atribuídos aos praticantes de alta competição, bem como aos respectivos treinadores, por classificações relevantes obtidas em provas desportivas de elevado prestígio e nível competitivo". O Mundial de Futebol é uma prova "de elevado prestígio e nível competitivo"? É, sem qualquer sombra de dúvida. E um quarto lugar é uma "classificação relevante"? Não seria, para a equipa canarinha; é-o sem sombra de dúvida para a selecção das quinas.

Logo, deve o governo atender ao pedido do presidente da Federação Portuguesa de Futebol para que fiquem isentos de pagamento de IRS os prémios de presença no Mundial de 2006, no valor de 50 mil euros por jogador? Não. Ou melhor: NÃO!

O artigo 13 foi incluído no Código do IRS a pensar em atletas amadores, não em profissionais pagos a peso de ouro. Aplicando a taxa de 40% aos 50 mil euros ganhos pelos futebolistas, concluímos que cada um deles terá de pagar 20 mil euros. Isso equivale talvez a uma semana de trabalho para os seleccionados que menos ganham; mas menos de um dia de trabalho para um Cristiano Ronaldo ou um Luís Figo.

A isenção seria uma esmola dada a milionários por um país que não tem como garantir uma existência digna a muitos dos seus cidadãos. Seria um insulto para os desempregados, para os que vivem na pobreza, para a esmagadora maioria dos reformados. E sugerir a isenção é uma ideia tão tola quanto foi exemplar o comportamento dos futebolistas na Alemanha. E a prova - uma vez mais - de que o mal do futebol português está nos dirigentes, e não nos jogadores.

By:Paulo Camacho

(Eu nem me atrevo a comentar....só ia estragar o texto...Inês)