23 julho 2012

Je ne sais quoi

a minha vida

JE NE SAIS QUOI

Quando li, há muitos anos atrás, a frase de Marcel Proust ‘’As mulheres bonitas, deixo-as para os homens de pouco imaginação’’ foi como ter uma epifania. Parecia que afinal, há cem anos atrás, alguém pensara o mesmo que eu, e não era um homem qualquer, mas um dos mais importantes autores do inicio do século XX.
Recordo-me de nos meus tempos de liceu os meus amigos me perguntarem a razão porque tendo tido namoradas bonitas e podendo namorar a X ou a Y eu me caíra de amores pela Rita que era uma rapariga bonitinha mas não bonita.
E mais tarde a situação repetiu-se com a Magda, com a Cristina.
Realmente eu não concordo com Vinicius quando disse que a beleza é fundamental. Julgo que deverá haver sempre um laivo de beleza, de simetria, mas fundamental? Não de todo!
Sim, é bem verdade que a beleza proclamada era um misto de je ne sais quoi mas todavia assentava muito no aspecto físico.
Mas a sentença de Vinicius é perigosa e irrealista porque parece definitiva, absoluta! Parece afirmar que a mulher se deve conformar com a sua herança genética, perder a esperança, baixar os braços, render-se a um destino que um fado traçou.
Nada tão longe da realidade. Cada mulher encerra em si o potencial para se metamorfosear. Cada mulher encontra em si argumentos que superam os limites físicos, um encanto não tão perene que fascina os homens e os leva a olhar para si em plenitude.
Eu não o escrevo porque eventualmente só tenha tido namoradas menos bonitas, o que não é verdade de todo. Mas desde novo me dei conta que a beleza era apenas um invólucro que muitas vezes não vinha acompanhado de grande conteúdo. Na realidade muitas vezes o romance não durava mais do que quinze dias, tantas quantas as páginas que poderiam ser escritas com o argumento e o diálogo que tinha entre mãos sem cair numa evidente repetição de cenas , frases e ideias!
A beleza nessas ocasiões revelava-se pouco atractiva e, como veria a constatar mais tarde, muito efémera.
Por outro lado cedo descobri o je ne sais quoi de algumas mulheres. O poder do charme sobre o outro sexo.
Hoje procuro o je ne sais quoi que há em cada mulher. Ou deveria haver! Esse je ne sais quoi , o não sei o quê, indefinível e contudo tão evidente em algumas mulheres.
A beleza natural , como constatei ao longo dos anos é transitória, um estado efémero que se desvanece com o peso da vida, com o desleixo da mulher, com a transição fisionómica.
Já o je ne sais quois se mantém inalterável, pode ser apurado, desenvolvido, abrilhantado!
Uma mulher que confie apenas na sua beleza sem que tenha um menor je ne sais quoi que faça a diferença cedo compreenderá que a sua beleza dará para quinze dias de paixão e quinze anos de compreensão.
Uma mulher apenas bela serve de cartão de visita, para ostentar, como se de um carro de luxo se tratasse. Uma mulher com um je ne sais quois não o permitirá, antes transformará um homem no seu objecto de prazer e de valorização se este apenas tiver a sua beleza como qualidade válida para uma mulher. Pouco, muito pouco!
A beleza é transitória e ultrapassável. Por cada mulher bonita que encontro, logo outra ainda mais bonita me surge daí a pouco. É uma luta inútil, vã, a da mulher que se pretende a mais bonita ou a que procura que a sua beleza seja a chave para fechar o coração do seu homem. Tão pouco fechará a sua castidade!
O je ne sais quoi é único, exclusivo, e por isso mesmo não pode sofrer competição. Podem haver outras com outros atractivos mas nunca conseguirão repetir a mesma matriz.
Se a beleza é uma mera qualidade do invólucro, já o esse je ne sais quoi é um mundo, cheio e por descobrir, que preenche todo o conteúdo. É imortal! É eternamente sedutor, atractivo, viciante!
Uma mulher apenas bonita será como um episódio de uma série que se repetirá dia a dia até à exaustão. Uma mulher dotada desse je ne sais quoi será como uma longa série cheia de cliffhangers e de voltefaces! Todos os dias ligaremos a televisão para descobrir o resto da trama, apenas para verificar que com a conclusão de um ciclo outro se inicia!
Poucos sabem racionalmente porque preferem o je ne sais quois! Preferem ousar, desafiar, arriscar e até perder e obter esse je ne sais quoi que algumas mulheres têm e que sabem, têm a certeza, perdurará.
A beleza é fundamental sim, mas não essa beleza cantada pelo poeta. A beleza que é fundamental é a que sai de dentro, que implica, que fascina, que provoca, que nos arrasta. Uma beleza que só sabemos existir ao ver, ao contactar uma beleza imperceptível em imagens, fotos ou pinturas, uma beleza que não pode ser descrita numa tela mas que todavia perdurará por muito mais tempo na memória dos homens.
Uma beleza de que só consigo descrever como je ne sais quoi, o que todavia é tudo!

by  Johnatan Stiffwell
E dou graças a Deus por também haver mulheres que pensam como eu, pois se não fosse o meu je ne sais quois eu também passaria despercebido aos olhos femininos!