09 outubro 2006

Lágrimas ocultas
















Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

BY: Florbela Espanca

(Inês de Castro: a que chora lágrimas que ninguém vê, longe da fonte dos amores da longínqua Coimbra)

2 Comments:

At 6:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E será que alguém tem d ever?
A dor não será suficiente numa só pessoa? Não será que as outras esferas terão brilho no dia de amanhã e o grito intenso tenha outro significado?

Abandona-te antes na esperança que o sofrimento tem sempre hora marcada com o passado.

Beijos grandes e amigos aqui da Teia.

 
At 10:32 da tarde, Blogger Luís Galego said...

Florbela foi a primeira poetisa de quem gostei....e gostei (muito) cedo....os versos de Florbela transpiram dor de tal forma que me fazem doer sempre que os leio...talvez momentos masoquistas, quem sabe....mas o que é verdade é que tenho de voltar a ela de vez em quando...ou ouvila através de uma gravação antiga da Eunice Munoz.

 

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